Corpo de texto: fragmentos.

terça-feira, março 14, 2006

Tosse Convulsa. Três poemas pelas terras do Amor. 3: Tudo o que quero.

Uma luz que afastava as sombras que insistem em fazer-se escorregar pelas superfícies que são tudo o que me resta de anteriores saldos negativos de amores.

Não te quero pedir nada, nada.
A não ser que fiques comigo para sempre.
Não quero que me dês nada, nada.
A não ser que te esvazies toda só para te engolir.
Não te prometo nada, nada.
A não ser ceder o espaço que existo para que tu o ocupes.
Não quero que esperes de mim nada, nada.
A não ser que eu esteja sempre à tua espera e tu de mim.
Não quero que me toques sequer.
Quero que me respires e bebas e te engasgues comigo.
Não quero que te dês.
Quero que já tenhas sido dada e eu te roube toda.

Não sei porque não consigo escrever certas palavras.
Talvez seja porque já sejam ditas mas não conheças o idioma ou eu o não saiba traduzir.

Ricardo Reis, um outro que preferia dizer pouco, disse:

«Quer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
Por nós, quer-nos, oprime-nos.»

Nós não queremos amor, porque temos ainda medo dele, de outro amor, de outros amores.
Nós queremos amor, mas um amor simples, que não se esvai tão rápido, porque se imiscui por nós lenta e profundamente.


Só quero que seja rápida a lentidão com que desejas.