Corpo de texto: fragmentos.

segunda-feira, julho 11, 2005

Tosse Convulsa. "É um olho nu, mas não selvagem."

É um olho nu, mas não selvagem. Vampiriza as cores,
o azul e o branco, todos os cinzas, das montanhas, das
noites, do quarto secreto, onde se alojam as palavras,
a última palavra e a palavra secreta. Transporta-se nos
outros como um vírus, e desenha um rasto em forma de
tela, ou de império vasto: engole a memória, as imagens
todas, sejam as fotografias de uma viagem num inverno
sejam as imagens negras de uma só criança. Está entre
os fantasmas dos inocentes, e o amor pelas coisas negras,
como em Lautréamont. Negro tão brilho, que espelha. Por
detrás, estende-se a citadela de altas colunatas avermelhadas,
de rito, e dos frisos multicolores de histórias vítreas e das
quais jamais partirá uma explicitação. Ficam-se figuras abertas
à toxicidade de qualquer interpretação. O olho passeia-se por
elas à lentidão que bem desejar ou antes com rapidez, corrosiva,
interrogante. Sorve cada característica, comercia com
todas, elevando aos poucos uma ordem linguística entre os
signos, que se repetem num padrão imenso, mas padrão na
mesma: características que ora caem num prato ora noutro, de
uma também imensa balança moral, mas cujo fiel demonstra ser
na rotação avesso a qualquer posição concludente, apenas se
importando com o movimente perene. Tudo isto nos contamina
como labaredas de liberdades que nos contagiam como cataratas
de ânsia e temor que nos envolvem como mantos... É um olho
cujos movimentos desarrumam os assobios possíveis e os ventos
guias e mensageiros. É um olho que não serve para ver somente,
mas para escrever o que vê, talvez segundo desejos, talvez segundo
um código preparado anteriormente à sua inauguração enquanto
órgão suserano. Rastreia a linha que se evola entre o mais profundo
dos poços cavados em busca de águas, turvas que fossem, ao mais
alto torreão falso de castelo, do qual se despenha gente, o qual
apenas serve para que se despenhe gente, nas turvas águas se
encontradas. Que custodia este olho nu senão vãs sombras,
com as quais atingimos, pela força desejante da mão, as mais
concretas ideias de sonambulismos com que comunicamospela superfície do mundo?