Corpo de texto: fragmentos.

segunda-feira, julho 11, 2005

Montesinos. Vitrúvio. Clima. O circo-íris.

Nesse momento, olhei para o alto. O sol estava mesmo por cima de mim, um sol poderoso de meio-dia, como um reflexo de glória no fim do trajecto do meu olho pineal. Tive que cerrar as pálpebras à volta dos olhos, com a ajuda de toda uma ondulação da face que mos protegesse da luz directa. E então pude vê-lo: à volta do sol, num perfeito círculo concêntrico, um arco-íris! Na verdade, não sei se lhe posso chamar arco-íris, já que de arco não tinha nada!, era um círculo completo! Um anel! Sim, um anel glorioso, de esponsais entre a alegria e o mundo todo nesse momento! Não sei agora precisar se foi essa visão tão inusual que despoletou em mim, como se o meu coração fosse um brinquedo de corda, uma alegria trinando, ou se foi a alegria que já em mim despontava que provocou esse fenómeno nos céus... por mais irracional que se pareça, entre nós e o céu, já o sabemos pelas palavras de outro, passa-me mais do que a razão possa conhecer. Depois de vislumbrar esse largo e colorido anel, um anel de ternura maternal que por tudo poisava, de um amor filiar que tudo elevava, ainda e também de um afecto quase de amante, que a tudo transmutava, e tudo me parecia mais vivaz aos meus olhos: foquei apenas o que era alegria pura nas ruas, por mais tristemente urbanas que fossem, tudo o que lhe era ridentemente natural sobressaía, como a cor rubra e contrastiva de papoilas num campo verde: vi mães, e crianças, há sempre crianças e tudo o que elas fizessem era pela via do meigo, as maldades inerentes à criança desapareciam, e os animais surgiam todos mais vivos também... Ouvi três ou quatro cantos diversos das árvores, escondidos, apenas manchas rápidas de pardo e negro pela retina, exultando em canto o voo, nas ervas viviam-se batalhas e curtas epopeias, entre insectos e criaturas sem tino...