Corpo de texto: fragmentos.

segunda-feira, julho 11, 2005

Tosse Convulsa. "Dizes que sim como o burro"

Dizes que sim como o burro, que grita “iá, iá”
e não pensa e não deita fora o fardo que leva
às costas. Os segredos são perigosos e nocivos
à saúde: são carcomas que infectam por dentro
quem os tem. Encolhes os ombros, assinas o
despacho pensado que se, se, se, se e todos esses
ses acumulam-se como um tambor de vidro de
serpentes, ondeando umas por cima das outras
destilando veneno que de nada serve a ninguém,
apenas a ti-mesmo, acumulando-se no fundo,
fazendo subir o nível de veneno até aos artelhos,
ou mais, até te afogar em veneno, e ao respirar para
não te afogares, arfas, inspiras, esbracejas como um
louco, consumes mais ar que o que te cabe na conta, e
continuas a zurrar, a zurrar sim e sim e outro sim,
e é com esse falso sim na boca, que de nada te serve,
que serves aos outros, que morres, sob o fardo.