Trovoada. O Último Voo dos Pássaros.
O sol ainda não se pôs totalmente do outro lado do dia, e a nitidez dos contornos das coisas torna-se mais forte, nos poucos e preciosos momentos do encontro dos nossos olhos nocturnos com os diurnos. Caminhava pelo passeio, em direcção ao cais, do qual se atingia também a estação de comboios, onde se tivesse sorte apanharia o último comboio de volta a casa. Tinha que atravessar o pequeno jardim público, com variadas árvores protegidas por baixas cancelas pintadas de verde velho, e bancos de madeira que nunca foram confortáveis, mas menos nos dias em que conhecemos outros luxos. Por cima dos renques, nuvens que se concentravam e logo distendiam de pássaros volitavam. Resolveu parar e observar essa pequena mancha meio negra, meio diáfana que preenchia o céu imediato. O comboio poderia esperar. Tudo poderia esperar. Ele próprio esperou que os pássaros se cansassem de voar, e de chilrear alto como o faziam agora, e não paravam ao poisar nos seus ramos e ninhos, respectivos, desconfiando, acrescentou ele. Aos poucos, depois deste último voo, os pássaros foram-se calando, um hino de despedida ao sol, que já apenas iluminava de rosa armagedão os longes do horizonte. Um trino, uma frase pequena, fraca. Uma outra nota. E nada mais, apenas a noite. Todo o mundo terminara.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home